segunda-feira, 26 de março de 2007

Atolado numa praia dos quilómetros

Em Março de 2007 decidi ir para a praia dos quilómetros. Para quem não sabe, as praias dos quilómetros são as praias que se estendem ao longo da costa entre a cidade de Luanda para sul até à província de Kwanza Sul. Tem boas praias e acaba por ser uma excelente alternativa para a saturada Ilha de Luanda!! Optei então por seguir para estas lindas praias.

O tempo ajudava e estava tudo perfeito para ter um brilhante dia de praia, não fosse a vontade do português de querer ficar com o carro quase dentro da praia!!! Eu não fui excepção só que me dei mal...

Aproximei-me demais da costa e o terreno onde andava estava um pouco enlameado mas parecia perfeitamente normal para um jipe. Após cinquenta metros de caminho em lama em direcção à praia o inesperado acontece!! Afinal não era só lama mas sim lodo... Escusado será dizer que fiquei atolado com o diferencial assente no chão.

Fui pedir ajuda a uma série de pessoas que estavam com e sem jipes e que foram até ao terreno para me tentar ajudar. Vou relatar cada um dos episódios.

(i) Estavam uns angolanos a almoçar e lá fui eu incomodar para me darem uma ajuda que tinha ficado atolado na lama. O senhor lá foi comigo e quando chega perto do terreno diz que nem sequer lá iria entrar com o carro e que o melhor que eu tinha a fazer era ir até à estrada, pedir boleia até ao pronto socorro (a uns 10 quilómetros de onde estava). Fiquei agradecido pela dica mas todos nós sabemos bem como é pedir boleia em Luanda! Primeira tentativa frustrada...

(ii) Aparece um jipe com um casal de angolanos em que lhe pedi ajuda. A resposta que tardava a vir apareceu!! “Claro que ajudo mas preciso que me dê uma ajudinha para o gasóleo!! – A dita “gasosa” porque, em Luanda, nada se faz com boa vontade e entreajuda mas sim a troco de umas “gasosas”. Concordo com o casal e lá tenta entrar no terreno. Ao fim de dois metros de entrar ficou atolado! Segunda tentativa frustrada...

(iii) Lá apareceu umas pessoas conhecidas que nos deram uma boleia à procura do pronto-socorro. Ora, o pronto-socorro estava fechado. Parámos perto de uns camiões para pedir ajuda e lá houve um camionista que decidiu nos ajudar. Apenas nos disse que não tinha gasóleo no camião. Este motorista foi impecável em todo o tempo e sem pedir qualquer “gasosa”. A explicação para este facto era ele não ser de Luanda mas sim da província do Namibe. Apesar das inúmeras tentativas do camião não conseguiu arrancar a pickup do lodo principalmente pela falta de um cabo de aço. Terceira tentativa frustrada...

(iv) Uns jovens angolanos a gabarem-se que o jipe deles nunca tinha ficado atolado em lado nenhum, como se tivessem o melhor jipe do mundo, estavam dispostos a ajudar-me. Claro está que pediu a respectiva “gasosa” para o serviço. Lá foi acordado o valor e pôs-se ao terreno. Claro está que também ficou atolado, assim como um outro jipe que tentou ir socorrer este também não teve força para sair. Quarta tentativa frustrada...

(v) Chegou a vez da ajuda manual!! Uns “candongueiros” que foram todos para esta praia para apanhar uns valentes bebedeiras decidiram ir oferecer a sua ajuda. Ora, claro está a troco da sua “gasosa” mas que eram uns 30 homens e que tiravam a pickup num instante. Certo que a carrinha nem sequer se mexeu de onde estava. Quinta tentativa frustrada...

(vi) Era quase de noite e novamente com a ajuda do camião, conseguiu-se retirar todos os jipes atolados que foram em meu auxílio mas o meu continuou por lá. Ora todos aqueles inicialmente me pediram dinheiro esqueceram-se de me agradecer porque se o camião os tirou foi porque fui eu que o levei para lá, mas assim que se viram salvos, todos se piraram, com excepção de um que me deu todo o auxílio, embora em vão. Sexta tentativa frustrada...

(vii) As pessoas que decidiram me ajudar conheciam um outro pronto-socorro que estava aberto porque funcionava 24 horas e lá fomos. Ora as 24 horas deste pronto-socorro são relativas. Ao telefone não havia nenhuma viatura disponível, quando se liga para o dono já existe. Lá nos disseram que vinham a caminho. Passado 30 minutos de espera ligamos novamente para o pronto-socorro. Ainda nem tinha saído nem ia dizer mais nada (o angolano não consegue dizer que não a nada, simplesmente não aparece). Não vieram e o dono disse para aparecer no dia seguinte a partir das 7 horas da manhã (grandes 24 horas disponíveis)!!! Sétima tentativa frustrada...

(viii) Lembrámo-nos de ligar para os bombeiros e lá vieram em nosso auxílio. Ora, começou a chuviscar e para azar dos azares, conseguimos assistir ao despiste do camião dos bombeiros por uma ravina!!! A solução tendia a não aparecer. Não houve feridos e tentámos saber como eles iam tirar o camião e foi transmitido que seria pelo reboque dos bombeiros. Ora aí estava a minha solução!!! Se consegue retirar o camião dos bombeiros de uma ravina também me consegue tirar a minha pickup do lodo!!! Tarde de mais, o reboque só vinha no dia a seguir, também às 7 horas da manhã mas passei lá um pouco antes e já não estava lá o camião dos bombeiros. Oitava tentativa frustrada...

(ix) Após a pickup passar a noite atolada no lodo, no dia seguinte, às 7 horas da manhã já estava no pronto-socorro. Vi as horas a passar e sem solução. O dono estava a dar muitas “voltas” na ajuda. Primeiro faltava afinar os travões da grua que me ia tirar e quando estavam arranjados faltava o motorista!! Ora falamos de uma empresa de pronto-socorro que não tem motoristas... No mínimo é estranho!!! Após o diálogo acerca do caso da carta de condução do Mantorras e a revolta demonstrada, comecei a aperceber-me que provavelmente não iria ter nada resolvido com aquela empresa. Nona tentativa frustrada...

(x) A solução finalmente apareceu caída do céu!!! Enquanto aguardava o motorista do pronto-socorro, falei com um senhor que lá estava que me levou a uns amigos dele para me tentarem ajudar. Estava a ver as horas a passar e à espera que chegasse um jipe para me ir desatolar do lodo. Comecei a imaginar que não iria dar certo, porque vários jipes me tentaram tirar e nenhum conseguiu!!! Mas este estava bem artilhado!!! Lá seguimos até à praia dos quilómetros para retirar a pickup. Fiquei descansado, porque sendo este jipe duma empresa de camionagem, se ficasse lá atolado já estava um camião grua de prevenção. Após uma série de tentativas sem resultado, com, inclusive os cabos de aço a rebentarem e a começar a perder a esperança, surgem uns jovens da aldeia e que nos ajudaram a escavar por baixo da pickup de modo a que ela ficasse mais vulnerável para ser retirada. Lá foi acertado a respectiva “gasosa” e mãos à obra. Depois dessa ajuda, entrou o jipe que estava lá e a minha pickup lá saiu, claro está num estado de sujidade que não consigo descrever! Lá me desenrasquei e aprendi que existem certas zonas que não se deve entrar com carro, mas, só acontece a quem anda e nada me garante que não volte a acontecer...

3 comentários:

Anónimo disse...

que pena não teres fotos!

Anónimo disse...

Esta aventura está fabulosa! fartei-me de rir. PedroM.

Anónimo disse...

Não queria estar na tua pele, imagino o desespero, mas o relato pelo menos foi engraçado, a parte do carro dos bombeiros então...

Linilda C.