terça-feira, 12 de junho de 2007

A realidade de encontrar um trabalho em Luanda

Para uma mulher, encontrar um trabalho numa empresa a operar aqui em Angola está cada vez mais difícil, falando pelo modo profissional e não pelo pessoal. Falo directamente do assédio feito pelos responsáveis das empresas e não só as de grande dimensão às mulheres que vão às entrevistas. Comentários directos, do género, “para entrares lá dentro, primeiro tens que passar por mim” ou “isto está difícil mas depende de ti para conseguires o trabalho”. Estamos a assistir que os lugares são preenchidos não pelo, o que a pessoa conseguiu em termos académicos ou profissionais mas sim pelo pagamento corporal. Claro que o outro modo de entrar numa empresa se resume também aos conhecimentos internos da empresa. Aquelas que não cedem e não têm conhecimento têm que ficar limitadas à outra parte das empresas que se preocupam com os conhecimentos que apresentam e não ligam pelo corpo (os profissionais).

Em termos dos homens, fico fascinado por saber que os lugares são comprados ou então, também por conhecimento. Soube de casos em que foi pago uma quantia de dinheiro para assegurar que o lugar que estava disponível fosse preenchido por essa pessoa. Ou então, haver uma comissão a definir, que pode ser por vários meses em que o ordenado da pessoa que está a entrar vai directamente para a pessoa que a pôs lá dentro.

Num universo de milhões de pessoas, estas situações injustas acabam por prevalecer pois a vida em Luanda está difícil e o trabalho também, portanto muitas pessoas são obrigadas a ceder a este género de chantagens para poder sobreviver...

Namorar uma angolana

Namorar uma angolana pode vir a dar muitas dores de cabeça, exactamente o mesmo que elas podem dizer sobre namorar um português...
Quem disser o contrário deve ser muito forte!!! Acreditem que existem muitas diferenças culturais e qualquer coisa que seja dito, comum em Portugal, aqui pode ser levado muito a sério e ser considerado ofensivo.

Aconselho que é preciso muito cuidado com aquilo que se diz a uma angolana. Pode dar origem a uma série de confusões.

Atenção também que as cenas de ciúmes são muito frequentes e cria uma certa raiva quando se fala com outra angolana. Susceptível de se associar que já existe traição e tudo o mais.

Existe aqui uma música do “Maya Cool” que fala sobre o problema que é o telemóvel aqui em Angola!! Acreditem, porque relata bem o problema, dos telefonemas das amigas e mesmo que não seja amiga mas sendo um número estranho, dá problema...

Daquilo que me foi transmitido, uma mulher que tenha já uma certa idade e que (i) ainda não tenha filhos ou (ii) não esteja casado ou namore acaba por ser posta de parte pelos angolanos.
Explicação: Ou não é fértil ou tem um passado que não se deseja a ninguém...
Existem outras opções, não se encontrar a pessoa certa e também existem muitos que prometem muita coisa e depois não cumprem, deixando a pessoa entristecida e sem vontade de conhecer qualquer outro homem para não sofrer...

Daqui considero que as angolanas têm filhos muito cedo ou que ao fim de pouco tempo de namoro queiram casar pois é considerado um passo normal (se calhar até é e eu é que sou confuso a mais). Acho que têm o desejo de querer tratar de imediato o “marido”, e fazer-lhe tudo o desejável, assim como as lidas domésticas mas também ajudar em tudo o que esteja ao seu alcance.

Também é normal que aqui o angolano tenha muitas namoradas. O jovem angolano, neste momento tem que ter muitas namoradas, porquê? Porque está na moda, daí que, do lado feminino, existe quem aceite esta situação normalmente considerando que ela é a primeira escolha e a mais importante e que mais tarde ele a escolherá ou então, a procura de um homem sério, honesto e fiel que cada vez é mais difícil de encontrar.

Acho que certas coisas que escrevi aqui já devem ser ofensivas o suficiente, não sendo esta a minha intenção (alguns parágrafos foram-me relatados por angolanos).

Dias de férias em Angola

Desde o início de Junho que me encontro de férias em Angola!!! Está a saber muito bem, sabendo ainda que em Portugal o tempo não está a colaborar muito com o Verão. Tenho ido os dias até à praia e apercebo-me que a grande quantidade de turistas que estão em Angola afinal não fazem praia durante a semana!!! Hehehehe.

Realmente, e atrevo-me a dizer que, provavelmente, 80% dos estrangeiros que estão em Angola estão com visto turístico, mas não existem muitos em férias pois não??

Mas voltando aos meus dias de férias, acaba por ser um pouco monótono porque todos os meus amigos e colegas estão em trabalho sendo eu o único a não fazer nada. Mas mesmo assim ainda vou criando alguma “inveja” por aproveitar o sol que tão cobiçado é ao fim de semana. Como conseguem notar pela foto, não existe ninguém na praia além de mim, pelo menos assim foi ontem e hoje.

Despedimento em massa

Na empresa onde, até fins de Maio, eu trabalhava, verificou-se um caso insólito!!! De um momento para o outro, todos os expatriados, e não só, abandonaram a empresa para outras empresas. O meu caso, do gerente e de mais dois responsáveis envolvidos nas áreas de negócio da empresa somos os principais, levando o escritório de Portugal a questionar-se se existiu algum conluio entre nós, porque saímos todos na mesma data...

O que é fascinante, é saber que na empresa em Portugal, e falando do meu caso, já sabem até quanto é que eu iria ganhar (infelizmente para mim erraram) mas não sabem para que empresa é que eu vou trabalhar!!! Não sei se é para justificar que recebi uma proposta irrecusável ou se para camuflar o tratamento que nos foi dado pelo escritório de Portugal!!!

Com as comunicações dos despedimentos feitos há mais de um mês, ainda não existe ninguém que tenha substituído os lugares e não sei se irão conseguir, pelo menos fora da estrutura da empresa, porque para os valores que pretendem pagar, só se for a alguém que não conheça Angola e que não tenha cá ninguém que lhe informe do custo de vida. Aos “internos” existe sempre a hipótese de encostar a pessoa à parede e dizer «ou Angola ou rua»!!!

Bem que a empresa pode agradecer ao gerente demissionário porque apesar de já estar numa outra empresa, continua a ir a esta todos os dias de manhã para coordenar os trabalhos que existem, enquanto o escritório de Portugal nada faz para alterar esta lacuna.

A Polícia (parte III)

Após um longo período sem ser interceptado pelos respeitosos agentes, decidiram voltar à carga.

Tive mais dois episódios com a polícia, um com os agentes da Brigada de Trânsito outro com um polícia “de rua” (o equivalente à PSP).

O primeiro da BT foi num pleno domingo a caminho da Ilha. Ora, estava eu todo contente para ir almoçar a um restaurante da Ilha com uma companhia lindíssima quando na estrada, com carros estacionados na via da esquerda, sai de lá um táxi que quase me ia batendo!!! Apito e desvio-me com astúcia mas tive azar!! À minha frente encontrava-se um agente da BT que assistiu a todo o aparato. O que vos pode ser estranho, é que o senhor agente em vez de mandar parar o táxi que entrou na via sem respeitar qualquer regra de trânsito foi a mim que mandou parar!!! Porque será???

Pergunto-lhe se ele viu o que aconteceu, ao que me responde muito calmamente que sim. De pouco ou nada me serviu refilar e perguntar-lhe o porquê de me mandar parar a mim se o outro é que me ia batendo e blá blá blá... Já se sabe mais ou menos o resultado da coisa. Como ainda não tenho o documento legal da viatura não posso levantar muitas “ondas” (Infelizmente)...

O episódio que tive com o “polícia de rua” foi deveras engraçado!!! Após vezes sem conta a parar num sítio da cidade, e ao passarem sempre por mim inúmeros polícias e nenhum me dizer nada, houve um que após tanto tempo me decidiu abordar. Ora, bateu-me no vidro do carro para baixar o vidro e me começa a dizer que eu estava numa parte da via que interrompia o trânsito. Respondo-lhe que onde estava, não estava estacionado mas sim parado, e que se houvesse alguém que quisesse passar eu estaria ao volante para retirar o meu carro. Como não ficou satisfeito com a minha resposta, decidiu interceptar-me por outro lado e pediu-me os meus documentos e os da viatura. A minha resposta foi imediata (parecia que aguardava por esta situação há muito tempo...) e lhe disse que não lhe estava a ver as luvas brancas para que me pudesse pedir e receber os documentos (pela Lei Angolana, e acho que também em Portugal, só tem autoridade para pedir os documentos da viatura e a carta de condução os agentes da Brigada de Trânsito e que têm as luvas brancas)!! Refilou, refilou, refilou mas, a realidade é que ele não tinha mesmo nenhuma autoridade para tal coisa e tanto que se foi embora todo chateado e a dizer que eu lhe faltei ao respeito...

Vira-se para mim e mostra-me a identificação dele, dizendo que “você não tem luvas brancas e eu mostro-lhe a minha documentação!!”, seguido de um comentário ainda melhor de seguida, “se ali à frente lhe baterem no carro quem é que vai chamar?? Quem tenha luvas brancas??”. Ora, quem está aqui em Luanda, se houvesse um acidente bem que se sabia o que eventualmente aconteceria, portanto, não valerá muito a pena ligar a estes comentários.

A mudança de trabalho

Finalmente aconteceu!!!

Uma das coisas que mais ambicionava foi-me permitida e dada a hipótese!!! Após meia dúzia de anos a ser “cusco” e a analisar as empresas como um “outsider” agora passei para o outro lado. Deixei de ser o “gato” à procura do “rato escondido” para ser o “rato” a fugir do “gato”!!! Se é que me percebem...

A minha mudança vai ser feita para, se não o líder, é sem dúvida uma das empresas mais bem conceituadas do mercado mundial no ramo automóvel. Atrevo-me a dizer que, pelo menos em Angola é o líder de mercado, quer formal quer informal e mais não digo!!! E espero vir a dar o meu forte contributo para ajudar a que se mantenha esta posição no mercado e de melhorar dia após dia.

Embora o meu novo desafio só comece para meio de Julho e o meu anterior terminou no fim de Maio, por incrível que pareça ainda não consegui abandonar Angola!! E estamos a meio de Junho. Não saí principalmente por problemas relacionados com o meu passaporte, mas verdade seja dita, eu sinto-me muito bem aqui que não existe grande vontade de estar tanto tempo em Portugal. A única causa muito forte que me faz voltar a Portugal são os meus queridos pais, família e alguns amigos que por lá ficaram.

Fora da estadia do Hotel

Finalmente saí do Hotel onde estava alojado à, aproximadamente, um ano e três meses!!! Inicialmente, após um acordo com um colega da empresa que me cedeu a casa dele, mudei-me para lá (a pagar logicamente). Um quarto e casa de banho mas numa zona magnífica, na praia!!! Em alguns fins-de-semana, atravessava a estrada e aí estava eu, a apanhar sol e a tomar uns banhinhos, sem preocupação de apanhar a polícia ou de ser assaltado (isto porque nada levava além das chaves de casa). A outra grande vantagem era o trânsito, pois ao sair de casa em hora de ponta circulava no sentido contrário do trânsito.

Neste momento estou em casa dum amigo meu da Universidade, alojado porque não suporto mais viver num hotel!!

Às vezes ainda tenho saudades do hotel mas por poucas razões, por exemplo, nunca faltou água e luz e sempre existiu sempre lugar para estacionar o carro, mas, nada disto bate a privacidade que se tem numa casa e não ter que estar a ser controlado por toda a gente, quer da recepção quer da segurança, o uso de artigos pessoais pelas empregadas de limpeza e melhor ainda, deixei de ter a minha roupa com marcador a indicar todos os quartos por onde já passei naquele hotel...

Finalmente vou ter o meu próprio espaço, e obter a minha privacidade quando regressar a Angola para o mês de Julho...