segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

A performance de Tatiana Durão no BBA


 A senhora da polícia de imigração que carimbou o meu passaporte perguntou-me logo: «o que é que pensas da vossa Tatiana Durão?»
Durante um périplo recente que fiz na África Oriental, toda a gente, até altos oficiais governamentais, queriam saber o que eu pensava desta participante do Big Brother África (Bba) que, sem dúvida, é hoje a figura angolana mais conhecida no continente africano.
Angola, muitos africanos andam a dizer, não tem só uma economia vibrante; a libido das suas meninas, como demonstrou Tatiana, é inigualável. Estamos aqui, claro, no mundo dos estereótipos; mas a ideia fundamental do Bba está mesmo baseada no princípio de que pondo concorrentes de vários países numa casa durante 90 dias demonstra, eventualmente, as especificidades do continente.

O que o Bba demonstrou claramente é que a juventude do continente africano tem muito em comum: isto é, ela é superficial, inculta e sem valores nenhuns. O Bba é um dos melhores exemplos do entorpecimento mental do continente africano.

Em certos jornais da África Oriental, Tatiana Durão é descrita como sendo branca. Há quem diga mesmo que ela não ganhou os 100 mil dólares por não ser negra. Vi algumas horas do Bba e conclui que Tatiana Durão, na verdade, é muito africana; os seus valores são mesmo típicos de muitas meninas africanas que vivem nas áreas urbanas e cujas cabecinhas andam cheias de pedacinhos da cultura popular americana. Essas meninas, que são altamente atrevidas e descaradas, não têm valores nenhuns. Alguns meses atrás, participei pela primeira vez, como instrutor, num curso de escrita criativa num país africano.

A ideia era misturar alunos americanos e africanos e ver se o intercâmbio poderia estimular uma certa criatividade. Tive quase dez alunos, na sua maioria moças; todas elas tinham só uma obsessão: como «pescar» um americano branco entre os estudantes.

O maior sonho dessas meninas era casar com um homem branco e ir viver na América. (Ironicamente, a aluna mais velha do grupo, com os seus quarenta e tal anos, que escrevia com muito lirismo e muita profundeza, é que, eventualmente, acabou por ir aos Estados Unidos para continuar os seus estudos literários).

As minhas alunas não sabiam o que é vergonha. Durante os intercâmbios com os alunos americanos, elas aproximavam-se dos homens com a agressividade característica das prostitutas de um bar qualquer. Só que esses homens não estavam minimamente interessados nelas. Muitos desses alunos achavam essas africanas altamente chatas, uma espécie de verme que os perseguia.

Como professor e mais-velho delas eu sentia-me altamente envergonhado e só me perguntava donde é que essas desgraçadas teriam vindo. Vários desses homens americanos eram homossexuais, outros estavam mais interessados nas alunas brancas que participavam nesse curso. Havia, também, um grupinho de poetas brancos americanos, de cabelos rastas, cujo sonho era apenas fumar a liamba mais potente do continente e observar o seu efeito literário.

A Tatiana Durão fez-me lembrar as minhas alunas. Primeiro, ela apaixonou-se pelo tanzaniano Richard, que é um homem casado. Vários analistas na África Oriental escreveram que o caso de Tatiana e Richard não escandalizou o continente assim tanto porque os «cornos», neste caso, eram brancos. Richard é casado com uma canadiana branca, enquanto Tatiana, segundo os jornais na África Oriental, era noiva de um sul-africano branco (bóer ou inglês?), suposto proprietário de casinos em várias partes do mundo.

Um comentarista ugandês até afirmou que o casamento de Richard com a sua branca não era válido porque ela não era, apenas, muito feia mas estava mais do que claro que o rapaz tinha casado com ela para obter os necessários papéis para poder ir ao Canadá. As brancas, segundo este comentarista, só serviam mesmo para isto.

O noivo de Tatiana era menosprezado como um branco típico que, não obstante o seu dinheiro, tinha um grande deficit lá onde conta mais: é que diz-se que Richard, que foi visto nu por várias vezes neste programa, tem um órgão genital gigantesco; a nossa Tatiana não podia, de forma nenhuma, resistir. Sim, caros leitores, estamos aqui num mundo altamente sórdido e vil. No Uganda, o jornal Red Pepper publicou fotos de Tatiana a lavar os seus órgãos mais privados.

Há tanta coisa no Bba que é tão ofensiva que eu não lamentaria se este programa fosse mesmo banido. O programa que deveria celebrar a cultura africana degenerou numa reles competição fálica. (Um outro participante do Malawi que se apaixonou e namorou com uma moça ugandesa na casa tinha, também, uma mulher branca fora que até estava bem grávida!) E a relação (era namoro?) entre Tatiana e Richard atingiu mesmo proporções pornográficas.

Claro que vários segmentos da juventude do continente africano foram gostando do espectáculo. Muitos desses jovens, que passavam horas a ver várias obscenidades do Bba, cresceram com telediscos da música popular negra norte-americana, nas quais o gangster, como sempre, cheio de dinheiro e joalharia, está ou a conduzir uma viatura caríssima ou então na cama com uma equivalente da Tatiana Durão.

Também é claro que hoje, por toda a África, a pornografia encontra-se em todo lado. A Tatiana e as suas colegas, na casa do Bba, ficavam tão bêbadas que perdiam o senso da razoabilidade. (Fala-se, até, deste tal Richard, com a sua bengala genital, ter tirado proveito de uma das participantes que estava altamente embriagada).

Infelizmente, este tipo de comportamento é, hoje, muito comum no continente africano. Um outro aspecto tão marcante nessas meninas, as Tatianas, é a arrogância; muitas delas confundem, até, a atracção sexual, que é altamente efémera, com inteligência. Tatiana Durão é uma grande vergonha para a nação angolana; nela eu não vi a nossa mulher que é, ainda, tão digna e consegue comportar-se com muito nível e elegância.

Uma participante no Bba passado, cujo nome é Cherise Makabale, que é oriunda da Zâmbia, passou a ser uma fonte de tanto orgulho para o seu país que lhe foi dada um passaporte diplomático. Sei que houve gente que vibrou com a performance (vergonhosa, diga-se) de Tatiana. Cá para mim, esta gente se calhar até tem-na como uma apta «embaixadora» de Angola na Convenção Internacional das Prostitutas, em Las Vegas.

Publicado em "http://www.uaue.co.ao"

1 comentário:

Anónimo disse...

Tatiana não é o resto da mulher angolana, somos todas giras mas muito diferentes umas das outras.

Pra mim importa a diferença.